segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Acabou

Depois de mais de um ano sem escrever nada, hoje estou aqui de volta.
Mas dessa vez não estou aqui pra contar de nenhuma viagem, ou como foi meu dia, ou como foi minha semana, ou o que tenho feito. Hoje é um dia "especial" para mim. É uma marco que determina o fim de uma etapa na minha vida.

Hoje (já considerando que estou depois da meia noite em meu fuso horário) faz exatamente 2 anos, 6 meses e 19 dias que meu avião pousou em Berlim. Exatamente 931 dias que pisei pela primera vez em território alemão, mais que isso, fora do Brasil. Aproximadamente 22344 horas que eu me deslumbrei vendo neve pela primeira vez da janela do avião. Aproximadamente 1340640 minutos que eu quase morri de frio quando saí daquele aeroporto totalmente despreparado.

Pensando agora, sinceramente não consigo me lembrar quais eram minhas expectativas naquele dia. Não lembro exatamente o que se passava na minha cabeça. Só me lembro que eu estava apavorado. E quem não ficaria? Receber a notícia de que eu iria passar (pelo menos) dois anos vivendo num país que eu não conhecia, cuja língua eu não falava direito, e onde eu não conhecia ninguém, obviamente me deixou com um frio na barriga. Mas mesmo assim peguei minhas duas malas e embarquei.

Hoje, independente de quais tenham sido as minhas expectativas, tenho certeza que elas não foram frustradas. Agora eu sei exatamente o que está passando pela minha cabeça. Sei que estou sentindo uma mistura absurda de sentimentos. Alívio, nervosismo, felicidade, tristeza, ansiedade. E todos por um único motivo: estou voltando.

Sim, aprendi muito nesse tempo. Aprendi a falar alemão, aprendi engenharia (afinal, esse era o propósito do intercâmbio), aprendi a me virar sozinho. Mas acredito que o mas importante de tudo que me aconteceu nesse tempo foram as pessoas que conheci.

Conheci muita gente. Pessoas de culturas diferentes, de países diferentes, que falavam línguas diferentes, que tinham costumes diferentes. Algumas dessas pessoas encontrei somente por alguns dias (ou mesmo por algumas horas), mas senti como se já conhecesse há tempos. Conheci muitos brasileiros também, muitos que vieram comigo pelo mesmo intercâmbio. E muitas dessas pessoas foram marcantes na minha vida. Muitas dessas pessoas foram companheiros de viagem, companheiros de risada, estavam lá na hora de festejar e nos momentos de desespero (e foram alguns esses, viu!). Ou estavam lá mesmo por acaso, mas estavam lá na hora certa! Estavam lá na hora de discutir sobre os assuntos mais filosóficos depois de uma ou duas cervejas. Na hora de dividir um ticket de trem. Na hora que se precisa de uma bicicleta emprestada ou um lugar pra dormir depois daquela festa que terminou as três da madrugada.

Além de conhecer gente nova, também conheci melhor muita gente que eu já conhecia antes! Minha família, meus amigos que ficaram no Brasil e aqueles que voltaram antes de mim e vieram pra cá também depois de mim. Não é só porque não os via todos os dias, ou qualquer dia pra ser mais exato, que eles não tenham sido marcantes também. Amigos que me mantiveram a par do que ocorria na minha terra natal. Amigos que faziam minhas saudades aumentar ainda mais. Amigos que sempre vinham me perguntar quando eu ia voltar, pros quais agora posso dar uma resposta definitiva: HOJE.

Mas teve uma outra pessoa que conheci durante esse meu tempo de intercâmbio, que acredito tenha feito a maior diferença: eu mesmo.
Em função de todas as experiências que tive, boas e ruins, hoje sei agir mais conscientemente. Sei ser mais tolerante, menos teimoso. Conheço a influência que certas situações tem sobre mim e que eu tenho sobre certas situações. Conheço melhor meus limites e capacidades. Aprendi a admitir e pedir ajuda quando necessário e a ajudar quando possível.

E pra finalizar, só quero deixar o meu obrigado imenso a todas as pessoas que fizeram parte desse tempo da minha vida. A todas as pessoas que sabem que estão mencionadas neste texto. Àquelas que me ajudaram a me conhecer melhor.

Deixo aqui meu Dankeschön, e espero poder reecontrar cada uma dessas pessoas ainda. Eu certamente não seria o que sou hoje se não fosse por elas.
Estou voltando agora, mas tenho certeza que levo um pedaço dessa cidade e de cada uma dessas pessoas comigo e espero poder ter deixado um pedaço meu pra cada uma delas também.

Fui!